Elaborado por Gabriel
Bon Rabello ( bolsista PIBIC/UFF) e Gabriela
Scotto (professora do Departamento de Cs. Sociais/ESR/UFF)
Campos dos
Goytacazes (RJ), Julho de 2019
Este material se
destina a todos aqueles (professores, ativistas, cineclubistas, movimentos
sociais, dentre outros) que acreditam que o cinema é um maravilhoso meio para reunir
pessoas e experimentar, de forma coletiva, a magia capaz de emanar de um filme numa
sala escura. E mais ainda, para os que procuram meios para gerar, de forma
democrática, debates plurais e dialógicos sobre temas diversos. Procuramos com
isto estimular, também, a emergência de iniciativas cineclubistas voltadas para
o debate crítico sobre a temática socioambiental contemporânea. Conformação de
espaços de cine-debate (utilizando-se do recurso do cineclubismo) para debater
quais os impactos das indústrias e do sistema capitalista na sociedade e no
ambiente onde vivem as pessoas, produzindo “injustiças ambientais”.
Objetivo do módulo:
A partir da exibição de
obras audiovisuais (filmes de ficção, documentários, animações, curtas etc.) que
abordem as complexas relações entre água, poder e direito ao meio ambiente, estimular
um debate crítico coletivo sobre a temática, capaz de problematizar novas
perspectivas de análise e reflexão.. Este módulo pretende ser um guia para
organizar sessões sobre a temática da água, em uma perspectiva socioambiental, com
orientações que vão desde a escolha do filme até o debate e posterior avaliação
da atividade.
Elementos necessários para montar uma sessão:
- Escolha
do material audiovisual:
É muito importante que o filme a ser exibido seja uma
escolha coletiva do grupo, decidido através de votação aberta ao público (em um
encontro anterior) ou pela equipe organizadora do cineclube.
Deve-se considerar nessa escolha o público alvo que
estará presente na sessão. Faixa etária, escolaridade, o contexto da localidade
onde será promovida a sessão do cineclube, quais são as características e
interesses do público que frequentará. Portanto é importante observar se o
filme a ser escolhido é um documentário, uma animação ou ficção. Para isso, é
recomendável assistir o material anteriormente, visando identificar as
características de cada obra e como a mesma pode ser importante para atingir o
objetivo desejado.
Outro ponto a ser considerado na escolha de um
filme é sua duração. Dependendo de onde ou como será realizada a sessão, assim
como o público que irá frequentar, uma obra de longa duração pode ser um impeditivo;
nesses casos, exibir um curta-metragem ou uma seleção de curtas pode ser mais
proveitoso.
Observar e debater em conjunto com a equipe
organizadora se a obra a ser exibida é dublada, legendada ou nacional é
importante. Isso devido à dificuldade que pode ocasionar, dependendo do
contexto de exibição e do público, a leitura das legendas, portanto deve-se
refletir de acordo com o público qual a melhor forma de se exibir. Nem todos os
materiais estão disponíveis com versão dublada, portanto reforça-se a
importância de assisti-lo com antecedência. Também pode-se considerar obras sem
falas, apenas com a linguagem visual, facilitando a comunicação em algumas
situações.
- Escolha
do local de exibição
Ao escolher o local, alguns aspectos sobre como
funciona uma projeção devem ser considerados.
Os equipamentos necessários para a exibição (computador,
projetor e caixa de som) devem estar disponíveis no local, ou deve existir a
possibilidade de leva-los e ligar em uma fonte de energia. Não esquecer de
levar benjamins e extensão elétrica.
Para o
melhor funcionamento do projetor e qualidade da imagem é indicado que o espaço
escolhido esteja escuro; quanto mais escuro, melhor! Para tanto pode-se optar
por cortinas, cartolinas pretas para tampar as janelas caso a sessão ocorra de
dia, ou caso não seja possível tampar as fontes de luz externa, realizar a
sessão de noite.
Para a projeção da imagem, qualquer superfície
lisa, de preferência não refletora, é útil. Essa superfície pode ser uma parede
branca, uma tela ou um quadro.
- Preparação
para o debate
Considerando
o debate como uma das partes fundamentais na experiência cineclubista, ele deve ser pensado e planejado com o
mesmo cuidado que o próprio filme a ser exibido.
Algumas
questões são fundamentais para planejar o momento do debate: Quais materiais de
apoio serão utilizados? Haverá uma pessoa para estimular através de perguntas o
inicio da discussão? Será um/a debatedor/a? Quem será? Haverá alguém na
moderação? Essas questões, assim como a escolha do filme, local e a própria
execução da sessão devem ser debatidas em conjunto, considerando a escolha
coletiva como um dos princípios basilares do cineclubismo.
Baseando-nos
na experiência do Cineclube SocioAmbiental Campos (CiSAC), podemos apontar
caminhos que auxiliam para um bom debate. Mesmo que não seja indispensável, uma
pessoa para iniciar os comentários sobre o filme ajuda a estimular novas
participações e a encaminhar a discussão. Essa pessoa não necessariamente
precisa ser externa ao grupo, podendo ser alguém da equipe organizadora. Segundo a experiência do CiSAC, estimular as
participantes e os participantes da equipe organizadora à conduzirem o debate
acrescentam, não só para a sessão, mas também para as próprias pessoas responsáveis,
que aprendem mais sobre o tema.
Para
incentivar o início do debate é importante levar algum material que acrescente novas
perspectivas à discussão, para além do material audiovisual. Esse material pode
consistir em outras produções artísticas que tratam do mesmo tema (fotografias,
músicas, videoclipes, charges etc.), reportagens de jornal, artigos
científicos, entre outros. No caso do CiSAC, para cada sessão é
disponibilizados no blog do cineclube, material de apoio sobre a temática
tradada na sessão. Cada público e situação requer a decisão de quais materiais
são mais úteis.
Estas são
apenas algumas “dicas” baseadas na nossa experiência cineclubista. Cada
cineclube irá descobrindo o que mais se adequa a sua realidade e objetivo. Mas
o mais importante para que a experiência dê certo é o engajamento dos e das
participantes no projeto, o prazer compartilhado perante a experiência
cinematográfica e busca pela criação de espaços democráticos de discussão e
debate.
FILMES SUGERIDOS
(para saber mais, clique no título do filme)
- Rango (EUA, 2011): bela animação para debater sobre controle d´água,
"escassez", desigualdade e poder
Direção: Gore Verbinski
Duração: 107 minutos
Gênero: Animação
Idioma
original: Inglês
Sinopse: Da cidade
para o deserto, um camaleão acostumado com a vida de fartura tem que se adaptar
à um cenário onde escassez e conflitos são constantes.
A animação relata como a água pode ser utilizada como forma de
controle e exercício de poder quando está concentrada nas mãos de poucos.
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- Belo Monte: Anúncio de uma guerra
(Brasil, 2012)
Direção: André D’Elia
Duração: 100 minutos
Gênero: Documentário
Idioma Original: Português
Sinopse: O
documentário reúne relatos sobre a construção da usina hidroelétrica Belo
Monte, mostrando a partir dos depoimentos, os impactos negativos trazidos por
ela às comunidades ribeirinhas. Por outro lado, entrevista aqueles favoráveis à
construção, evidenciando a disputa pelo espaço, demonstrando que a construção
da usina não é apenas uma luta ambiental, mas política, econômica e cultural.
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- A fonte das mulheres
(França, 2012)
Direção: Radu Mihaileanu
Duração: 130 minutos
Gênero: Ficção/ Drama
Idioma original: Francês
Sinopse: Em uma
aldeia ao norte da África, com falta de água, as mulheres são encarregadas de
subir a montanha para buscar água. Diante da tarefa desgastante que gerava
diversos traumas às mulheres, uma delas decide tomar a decisão de uma greve de
sexo para mudar as condições das mulheres em uma aldeia patriarcal.
O filme exibe como a relação com a água, está perpassada por relações de
gênero, poder e tradição. Assim como através da prática social na relação de
obtenção da água é possível uma ruptura da estrutura social ou sua modificação.
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- Ouro azul: As guerras mundiais pela água ( Canadá, 2008)
Direção: Sam Bozzo
Duração: 89 minutos
Gênero: Documentário
Idioma original: Inglês
Sinopse: O documentário parte da premissa de que a água é um bem da natureza vital
à qualquer humano e comunidade. A partir de então, aborda o uso industrial em
escala global da água. Com a visão da água enquanto commodity, sendo explorada enquanto produto privado significa o
controle da forma de sobrevivência, através da água. Esse controle resulta em crises,
sede e guerra, no passado, no presente e possivelmente no futuro. Controlar a
água, então, é controlar a política e economia.
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- Alta Voltagem
(Índia, 2013)
Direção: Pradeep Indulkar
Duração: 27 minutos
Gênero: Documentário
Idioma Original: Hindi
Sinopse: Um antigo
morador e agora documentarista visita a comunidade na beira do mar onde
costumava passar a infância, em Tarapur na Índia. Nessa localidade foi
construída uma usina atômica. O documentário relata a experiência dos moradores
dessa cidade e arredores através de entrevistas. Demonstra as lutas contra o
despejo, os impactos causados pela poluição da água que afetam os pescadores
pela morte dos peixes, assim como as famílias pelas doenças em decorrência da
radiação. O documentário é a exposição da disputa de uma comunidade com a
indústria, em busca condições dignas de vida.
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- Abuela Grillo (Avó Grilo) (Bolívia/Dinamarca, 2009)
Direção: Denis Chapon
Duração: 13 minutos
Gênero: Animação
Idioma original: Espanhol
Sinopse: O curta reconta um mito tradicional boliviano da avó grilo. Por onde
ela passa, leva junto dela a água, andando pelos campos e regando as plantações
que alimentavam as populações ao redor. Um dia, ao ser agredida por um dos
moradores da aldeia, no campo, a avó parte para a cidade, levando consigo a
água.
A animação aborda a importância da água e a forma
como a mesma pode ser utilizada como um produto comerciável e controlado pelo
capitalismo. Mostra a
resistência do povo boliviano à privatização da água por grandes corporações.
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